A poucos dias da entrada em vigor das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos ao Brasil, setores da indústria e do agronegócio brasileiros demonstram um forte sentimento de pessimismo e impotência. A expectativa é que o chamado “tarifaço” — com taxas de até 50% sobre determinados produtos — comece a valer nesta sexta-feira (1º de agosto), e as tentativas de reverter ou atenuar a medida parecem, até agora, infrutíferas.
Segundo relatos de empresários, há pouca esperança de que o empresariado norte-americano intervenha de forma decisiva para barrar ou mitigar as tarifas. “Não sei se os empresários norte-americanos estão tão dispostos assim a brigar pelo Brasil, porque eles também têm os interesses deles por lá”, afirmou um empresário do setor industrial. Outro comentou que “não é fácil, nem fluido” negociar neste contexto.
Contexto político pesa nas relações
A dificuldade em avançar nas negociações é amplificada por fatores políticos, especialmente o alinhamento ideológico entre Donald Trump e Jair Bolsonaro. O ex-presidente norte-americano já se referiu ao julgamento de Bolsonaro por tentativa de golpe como uma “caça às bruxas”, e há sinais de que a elevação das tarifas seria também uma forma de retaliação política disfarçada de medida econômica.
Brasil fora das prioridades dos EUA
Outro ponto citado pelos setores afetados é o baixo peso que o Brasil tem hoje nas prioridades diplomáticas e comerciais dos EUA. Segundo representantes do agronegócio, o foco do governo norte-americano estaria mais voltado para países estratégicos em conflitos comerciais ou alinhamentos geopolíticos, como China, União Europeia, México e Canadá.
Impacto nos setores exportadores
O aumento tarifário deve atingir produtos-chave da pauta exportadora brasileira, como carnes, aço, produtos agrícolas e café — especialmente grave no caso do café, já que o Brasil é o maior fornecedor desse item aos EUA.
Mesmo com recentes declarações do secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick, sugerindo tarifa zero para produtos não cultivados nos EUA, como o próprio café, o Brasil não foi citado diretamente, o que aumenta ainda mais a incerteza entre empresários brasileiros.